Por Marcelo Villela, novembro 4th,
2015,
O
Brasil vive um “momento crítico” pois a situação fiscal (das contas públicas) é
um “desafio”, a inflação está alta e os “ventos favoráveis dos altos preços das
commodities [produtos básicos com cotação internacional, como minério de ferro,
petróleo e alimentos] e de uma população jovem estão sumindo”, diz a
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), por meio do
relatório econômico do Brasil.
Segundo
a entidade, todos estes fatores estão pressionando a economia que deve
registrar contração de 3,1% neste ano e de 1,2% em 2016. Por meio do relatório,
a OCDE recomenda que o Brasil avance com o ajuste das contas públicas planejado
que, em sua visão, será “fundamental” para fortalecer as finanças públicas,
restaurar a confiança do mercado e se preparar para o “intenso envelhecimento
da população”.
A OCDE também
projetou inflação no final de 2015 em 9,4%, mas vê que ela cairá com força a
4,9% no ano seguinte. Pesquisa Focus do Banco Central junto a uma centena de
economistas mostra que a expectativa é de contração do PIB de 3,05% este ano e
de 1,51% em 2016, com a inflação medida pelo IPCA em respectivamente 9,91% e
6,29%. Para o desemprego, a previsão é de que chegue a 6,7% este ano, e em 7,2%
em 2016.
De
acordo com o documento, o Brasil vai precisar controlar a expansão dos gastos
públicos, sobretudo tornando as despesas mais efetivas e, também, reformar o sistema
previdenciário. “O melhor direcionamento dos benefícios sociais – gastar mais
com os menos favorecidos, e menos em benefícios para aqueles que se juntaram
com sucesso à classe média – poderia reduzir a desigualdade e fortalecer,
simultaneamente, as finanças públicas”, avaliou a OCDE.
“A
estabilidade macroeconômica foi um fator crucial por trás do êxito passado do
Brasil. O progresso deve continuar nas frentes fiscal [de controle dos gastos
públicos] e monetária [de determinação dos juros pelo Banco Central para
controle da inflação]. Reformas estruturais ambiciosas são urgentemente
necessárias para diminuir as lacunas de produtividade com outras economias
emergentes, assegurando, ao mesmo tempo, que todos os brasileiros possam
compartilhar os frutos da prosperidade”, disse o secretário-geral da OCDE,
Angel Gurría.
Ainda
de acordo com avaliação da entidade, o aumento da produtividade será “essencial”
para o futuro do crescimento econômico do Brasil, particularmente do setor
industrial, que ainda apresenta “significativo potencial largamente
inexplorado”. “Reformas do sistema de tributação indireta, que está muito
fragmentado, uma infraestrutura melhorada, o aumento da concorrência e uma
maior integração ao comércio internacional são essenciais para aumentar a
produtividade e reforçar o estímulo à inovação”, acrescentou a OCDE no
relatório.
Angel
Gurría avaliou ainda que a questão principal, neste momento, é a sustentabilidade
fiscal (equilíbrio das contas públicas), pois a atual deterioração leva o mercado
a pedir juros altos – o que resulta em pagamentos anuais maiores em termos de
dívida pública. Para ele, o envelhecimento da população brasileira é um
desafio, como a “diabetes, um inimigo silencioso”. Segundo o secretário,
aumentar a idade para a aposentadoria e mudar o mecanismo de indexação dos
benefícios mínimos são importantes.
“A
inflação será mais alta da meta que era 4,5%. Entretanto, se o governo ampliar
seu esforço reformista, 2015 pode ser um ponto de inflexão. Reconquistar a
solidez econômica exige primeiro a correção das bases, restaurar a reputação
anterior do Brasil de seguir politicas macroeconômcias sólidas e robustas.
Mesmo nesse momento desafiador, em meio à recessão, é importante atingir as
metas fiscais para evitar novos rebaixamentos pelas agencias de classificação
de risco”, declarou.
Fonte:
G1