Sem
receber, médicos da Unimed Paulistana temem assumir dívida bilionária
Por Vitor
Sorano - iG São Paulo | 22/11/2015 07:00 - Atualizada às 23/11/2015
15:23
Lei prevê que cooperados podem ter de arcar com o
prejuízo se bens da organização forem insuficientes; grupo monta associação
para evitar a cobrança.
Claro que lamentamos profundamente toda e qualquer
derrocada, principalmente se vem de alternativas comerciais nas quais acreditamos,
cooperativa. Mas no Brasil é muito complexo o funcionamento, as cobranças,
ficando apenas a obrigação para seus cooperados. Funciona apenas as
cooperativas de grupos muito ricos. Era o caso dessa UNIMED, afinal a maior de
todas, a UNIMED PAULISTA. Se ela faliu e vai sobrar para seus cooperados, a lei
diz e será aplicada, imagine então as outras UNIMEDS desse BRASIL sem regras. O
governo deveria ordenar e cobrar auditorias, que vao desnudar um sistema seguramente
falido e caótico. Somos auditores e
temos visto coisas inacreditáveis. Um exemplo nacional é o caso do
PANAMERICANO. Todos devem estar preparados, se esta faliu, outras estão doentes.
A prevenção agora seria o melhor remédio. (Grifo de PAULO SOUZA, autor do blog. A matéria
foi retirada do IG).
Vitor Sorano/iG - 17.11.15 - Luiz Fernando Pinheiro Franco, neurologista: arcar com a dívida da
Unimed seria "destruição total"
O endereço de Higienópolis
continua nos receituários, mas o neurologista Luiz Fernando Pinheiro Franco
hoje atende exclusivamente na Vila Olímpia, no consultório do filho, que também
tem lhe passado os pacientes. Os seus, que assim como o médico dependiam da
Unimed Paulistana, desapareceram.
"Eu tinha 20 consultas por
dia e a última que fiz foi há uma semana", conta o neurologista, em frente
aos diplomas do filho, onde se exaspera ante às mudanças recentes na vida
profissional e pessoal. "Empregada doméstica demitida, jardineiro
demitido, guarda demitido. Eu tinha uma viagem a trabalho para a Alemanha e
tive de cancelar."
Após anos de dificuldades
financeiras oficialmente reconhecidas pelo governo federal, a Unimed Paulistana
foi obrigada em 2 de setembro a se desfazer de seus então cerca de 740 mil
clientes pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
A transferência deles para outras
operadoras, como é previsto na legislação para casos como esses, está longe de
ser tranquila. A lei previa a venda da carteira, o que garantiria a manutenção
das condições de preço e cobertura contratadas pelos beneficiários, mas a
operação não foi bem sucedida. Quem pertencia ao plano coletivo com mais de 30
vidas recebeu propostas para migrar para outras Unimeds com preços até 80%
superiores. Entre os demais, um processo de portabilidade que deveria acabar no
final de outubro vai se estender até janeiro de 2016, pelo menos.
Vitor Sorano/iG São Paulo - Sem pacientes, médicos da Unimed Paulistana convivem com consultórios
vazios e dívidas
E, se a recolocação para os
clientes tem sido turbulenta, para os cerca de 2,5 mil médicos da cooperativa
ela nem sequer existe. Além de perderem o plano de saúde, eles ficaram sem os
rendimentos mensais. Para boa parte, os únicos pois a Paulistana, conta
Pinheiro Franco, estimulava os médicos a se dedicarem exclusivamente à operadora.
Afinal, tratava-se de uma das maiores do segmento inserida num sistema de mais
de 350 cooperativas com milhões de beneficiários.
"Dos 2,5 mil médicos, 1.200
dependiam exclusivamente da Paulistana. Viviam disso", diz Ângelo Vattimo,
ex-conselheirio fiscal da Paulistana. "Muitos consultórios estão fechando,
funcionários estão sendo demitidos."
Para Pinheiro Franco, a ANS
deveria ter optado pela intervenção na companhia para tentar salvá-la, em
vez de determinar a venda da carteira. Em nota, a agência alega que a medida
não é possível, e que cumpriu os regimes estabelecidos na lei.
Associação
O fechamento do consultório de
Higienópolis após 30 anos de operação, a perda dos 3 empregados domésticos,
entretanto, são passado para o neurologista Pinheiro Franco. O que
– também – o preocupa é o futuro da Unimed Paulistana.
Como em qualquer cooperativa, os
integrantes da operadora dividem tanto os lucros, mas também são responsáveis
pelas dívidas que superam o R$ 1 bilhão. Se a Paulistana não tiver ativos
suficientes para arcar com a bolada – que pode ser maior –, a conta
pode recair sobre os cooperados.
A lei prevê que cada cooperado
arque, no máximo, com o valor de suas cotas, exceto para os diretores, que
alguns juízes têm obrigado a assumir dívidas superiores a esse limite. No caso
de processos trabalhistas, entretanto, mesmo o cooperado comum pode ter bens
para além das cotas bloqueados, diz a presidente da Associação Brasileira de
Direito Médico e da Saúde, Sandra Franco.
Elza Fiuza/Agência Brasil
Dos 2,5
mil médicos, 1.200 dependiam exclusivamente da Unimed Paulistana
"[Na Justiça trabalhista] é
bastante comum que os bens dos cooperados possam ser atingidos se não houver
possibilidade comprovada de a cooperativa realizar o pagamento. E, muitas
vezes, pode ocorrer o bloqueio de bens sem um aviso prévio aos
cooperados", afirma.
Os prejuízos sofridos e temor dos
que podem vir levaram mais de 500 cooperados da Unimed Paulistana procurarem a
Associação Paulista de Medicina desde a decretação da alienaçao da carteira da
operadira, diz Marun David Cury, diretor-adjunto de defesa profissional da
entidade. A história, porém, é favorável aos médicos, avalia o médico.
"Quando a Unimed São Paulo
faliu [no fim dos anos 1990], constituiu-se uma banca de advogados para
defendê-los. Apesar de serem sócios que teriam responsabilidades [com as
dívidas], nenhum colega foi citado [pela Justiça para fazer pagamentos]",
afirma Cury.
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O mesmo movimento é feito agora
pelos cooperados da Paulistana. Um grupo de médicos da operadora com o
ex-conselheiro fiscal Ângelo Vattimo à frente começa a colocar de pé uma
associação que tem entre suas primeiras tarefas encontrar um bom escritório de
advocacia.
"Não creio que os cooperados
possam vir a ser responsabilizados. [Mas] se os ativos não cobrirem, pode ser
pedida uma dissolução e nesse caso, creio eu, talvez, os cooperadado possam vir
a ser [responsabilizados]", diz, num misto de tranquilização e alerta.
"Mas há entendimento de que a responsabilidade se limitaria às cotas. Nós
vamos lutar para isso, para que se restrinjam às cotas."
Nesse cenário menos pior, o
neurologista Pinheiro Franco calcula que teria de desembolsar entre R$ 800 mil
e R$ 1 milhão.
"Seria a destruição total, a
anilquilação completa da gente como pessoa. Eu não tenho esse dinheiro."
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