Brasileiros
trocam Miami por Lisboa
Investimento imobiliário na capital portuguesa vive
‘boom’ devido às mudanças de legislação nos EUA
As mudanças na legislação e a situação econômica
são dois fatores fundamentais para que o investidor brasileiro se volte mais
para Lisboa
e menos para Miami na hora de comprar imóveis. O brasileiro se
tornou o melhor cliente das agências imobiliárias lisboetas, já que tem chegado
à capital portuguesa com o orçamento mais elevado de todos os demais
investidores.
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Os brasileiros formam a maior
comunidade estrangeira em Portugal, com 87.493 residentes, ou seja, 22% do
total de estrangeiros, segundo dados oficiais. Graças ao incremento do turismo
internacional, a imagem que o brasileiro tem de Portugal mudou bastante.
“Durante muito tempo, o
brasileiro viu Portugal como um país pobre e atrasado”, comenta Catarina
García, diretora da Remax Collection. “Houve uma mudança de mentalidade, em boa
parte pelo trabalho realizado no Brasil e, em parte, devido ao crescimento do turismo em Lisboa”.
O brasileiro é o turista que mais
gasta em Lisboa, depois dos angolanos e dos alemães, mas na hora de comprar uma
casa é o que dispõe do orçamento maior, tornando-se um cliente de alto padrão.
É a isso que se dedica, em seu trabalho, Gustavo Soares, da Sotheby’s: “É um
cliente que procura imóveis a partir de 800.000 euros (3,2 milhões de reais) e
com cerca de 300 metros quadrados, de preferência no percurso entre Lisboa e
Estoril”.
Soares admite que o número de
consumidores brasileiros aumentou muito nos últimos dois anos, seja em
decorrência da crise econômica em seu país, seja por causa das
boas perspectivas apontadas para Portugal.
A PwC publica anualmente um
relatório imobiliário para investidores internacionais. No Emerging Trends
in Real Estate de 2016, Lisboa aparece como a sétima cidade mais atrativa
para investimento, em um total de 28 grandes cidades analisadas.
“A sensação é de que Portugal
voltou a estar no radar dos investidores. A recuperação de Lisboa foi total;
com o impulso da popularidade internacional e as conexões transatlânticas, a
cidade voltou a ser um local atraente para os investidores”, afirma o
relatório.
De todas as cidades que aparecem
na lista da PwC, seja à frente ou atrás de Lisboa, só uma é atraente para os
brasileiros. A consultoria coloca cidades como Berlim, Hamburgo, Dublin,
Copenhague, Birmingham e Estocolmo nos primeiros lugares do seu ranking de
investimento imobiliário, mas esses são lugares com os quais o brasileiro
típico não costuma sonhar. A única exceção na lista é Madri, em quarto lugar.
“A capital espanhola às vezes é
concorrente e às vezes é sócia”, observa Catarina García. “Temos brasileiros
que compram aqui apesar de trabalharem em Madri, e vice-versa. O cliente
aprecia muito a proximidade de Lisboa com as principais cidades europeias. Faz
o papel de ponte aérea com a Europa.”
A explosão imobiliária que
acontece em Lisboa se deve ao investimento estrangeiro, pois o consumo local é
o habitual, mais barato e distante dos centros urbanos, que ficam reservados
aos escritórios e moradores estrangeiros. O volume de vendas cresceu 27% no ano
passado, e os preços no Chiado, o clássico bairro do centro lisboeta,
dispararam, apesar de essa não ser a zona preferida dos investidores
brasileiros.
“Diferentemente do europeu, as
preferências deles são por condomínios com glamour; o francês, por exemplo,
busca mais edifícios históricos no centro da capital”, explica Soares.
O comprador europeu valoriza mais
a história do edifício que suas comodidades. É capaz de comprar, na Mouraria ou
na velha Alfama, um apartamento sem elevador, sem vaga de garagem e aonde é
quase impossível chegar de carro.
García observa, porém, que o
Brasil “é um país tão grande que nele tampouco há um perfil único de
comprador”. “É diferente o brasileiro que já trabalha na Europa, que vive entre
cidades europeias – este é atraído pela moradia lisboeta clássica, carregada de
história, mesmo que com o sacrifício de um pouco de comodidade; em troca, o
brasileiro que chega pela primeira vez do outro lado do Atlântico procura
espaço, praia e comodidade”.
João, vindo de São Paulo, comprou
com a diretora da Remax três imóveis: uma casa à beira do rio, “para
residência”, um apartamento em Lisboa, “para trabalhar”, e uma chácara “para os
fins de semana”. “Tudo isso a vinte minutos de carro”, explica García. “Isso é
impossível em São Paulo sem um helicóptero, além de toda a infra-estrutura
necessária em segurança e serviços”.
A instabilidade política do Brasil incentiva a
colocar as economias num porto seguro. Tradicionalmente esse mercado seguro e
estável tinha sido Miami (Estados Unidos), mas uma mudança da legislação
estadual aumentou o imposto de sucessões para 40% e o dinheiro fugiu da cidade
norte-americana para se abrigar em Portugal.
“Nenhum destino oferece ao
cliente brasileiro o que Lisboa oferece”, acrescenta García. “Sol, praia,
segurança, bons preços, boas escolas, boas comunicações e, claro, a mesma
língua…”. Também não há muita alternativa à economia, com o rendimento nulo do
dinheiro no banco, o risco de uma bolsa louca e uma legislação que favorece os
aposentados estrangeiros: zero encargos tributários em Portugal e nas
aposentadorias de seu país de origem.
Diferentemente dos asiáticos, os
brasileiros não investem para obter o visto de residência europeia. Os vistos gold
são dados, fundamentalmente, a quem comprar um imóvel de mais de 500.000 euros;
desde que a medida entrou em vigor há quatro anos, dos 3.247 vistos concedidos,
90% foram para cidadãos chineses e só 5% para brasileiros.
A consultora Catarina García
adverte os recém-chegados que os preços no centro de Lisboa já estão altos –
subiram 22% em um ano –, caso sua ideia seja o retorno do investimento e não a
residência. “É um bom produto porque não vai desvalorizar, mas não vai obter
rendimento; se quiser rendimentos de 6% sobre seu investimento, há coisas muito
interessantes do outro lado de Lisboa”. Catarina não se refere só ao rio Tejo,
mas também ao Atlântico: “Existem hoje, no Brasil, opções interessantíssimas de
investimento para os portugueses”.